Caros,
Sempre houve a presunção de uma estreita relação entre informação, razão e utilidade. Ora, esse nexo começou a ser quebrado pelo Telégrafo, em meados do séc. XIX.
Sim, antes do telégrafo, a informação se propagava apenas na velocidade do trem, uns 55 km/h, ou do cavalo, ou da diligência, ou do homem correndo, como Fidípides após a Batalha de Maratona). E, antes do telégrafo, a notícia que importava tinha um interesse local, uma utilidade particular, mesmo se fosse nacional.
O Telégrafo removeu a distância como limitador da velocidade da informação. Pela primeira vez, o transporte e a informação foram desatrelados.
A consequência principal da tecnologia do Telégrafo foi que a informação começou a não ter mais contexto: tornou-se uma coisa de vida própria, solta. Ou seja, o valor da informação não precisava mais estar ligado a nenhuma função social ou política no processo de ação e decisão das pessoas.
O Telégrafo transformou a informação numa commodity, numa coisa que podia ser comprada e vendida sem relação com sua utilidade ou significado.
Mas o potencial do Telégrafo para transformar a informação em commodity só ocorreu pela parceria com a chamada Penny Press, uns tablóides de 1 centavo de dólar. A crescente classe de trabalhadores queria ter acesso a notícias e a Penny Press lhes deu isso: crimes, tragédias, escândalos, fofoca, notícias – mesmo as falsas. Nenhum desprezo aqui: em parte, a Internet cumpre esse papel 160 anos depois, dando vazão ao impulso de curiosidade das pessoas. Foi a Penny Press que capturou o significado da aniquilação da distância pelo Telégrafo e o passo seguinte: entendeu quão fácil passou a ser vender informação irrelevante.
Dois anos depois da invenção do Telégrafo, os jornais, para sobrevivência, passaram a depender, não da qualidade ou utilidade da notícia, mas em quanta notícia e de quão longe e de quão rápido ela chegava…
A tecnologia do Telégrafo mudava o paradigma da imprensa. Para pior, em geral.